Esgoto
Para o esgoto eu vou, dizem que não sou nada
Vivo rumando, com meu destino conhecido
Mas antes de seguir esta jornada
Fui retirado, jogado, expurgado
Como a remela no olho pregada
Que se assemelha à lágrima
De um bêbado, uma pessoa drogada
Cuja alma só se vê renegada
Como o escarro do pulmão
Pleura, que purificaria o sangue
Do doente, da desgraça, da poluição
Das cidades, da humanidade
Como o cuspe que cai no bueiro
Limpando a boca, a garganta, o lábio
De um homem que é sujo, inteiro
De um ser que se julga sábio
Como o suor que escorre pela pele
Refrescando o desejo da derme
De quem peca, arrepende, despe
E se torna pior que um verme
Como o esperma que é derramado
Da luxúria, da vergonha, da maldição
De quem nunca foi amado
Quem nunca viverá uma paixão
Como o sangue que é desperdiçado
No amor, na paz, na guerra, no ódio
De quem vive e viverá amordaçado
Do ser humano, o filho pródigo
Para o esgoto eu vou
Do esgoto eu saí
Das piores entranhas
Urbanas, viscerais, humanas