Esperando pela fada da motivação
(adaptado livremente por Leo, de Nature – 7 de abril de 2011 – Vol. 472 – Autores: Hugh Keaners e Maria Gardiner)
É fácil desistir para a procrastinação*, mas os autores dão dicas de como tomar seu fôlego de volta.
“Eu amo datas limite. Eu amo o barulho que elas fazem quando vão embora.” (Douglas Adams)
Se você está procurando condições ideais para procrastinar, conduzir um projeto de pesquisa (ou ficar esperando pela sua próxima prova “distante”) pode dá-las facilmente. Tais projetos tendem a ser grandes e demorar bastante tempo: completar um projeto de doutorado, por exemplo, demora quatro anos em média (concluir um curso de graduação leva o mesmo tempo em média... concluir um período leva quatro meses letivos de aulas). Datas limites, datas de provas e finais de tópicos são normalmente difusos e mal-definidos. Então temos o sistema de recompensa: você pode colocar muito esforço em pouco, ou nenhum, retorno positivo durante o caminho e a recompensa, se houver, demorará muito tempo para chegar. Adicione isto ao fato que cientistas, e estudantes, são normalmente perfeccionistas com relação às demandas, se não idealistas, e é de se notar que procrastinação é um assunto muito discutido em workshops e conferências. Muitos pesquisadores simplesmente dizem por garantido que eles estão à mercê das forças da procrastinação, destinados ao aumento de stress e ao alongamento das datas limite. Mas existem simples estratégias para fazer você se engajar. A primeira é reconhecer os padrões que você está inserido(a).
Algumas atividades de procrastinação são bem óbvias. Tem o cafezinho que se torna horário de almoço. Assistir vídeos no youtube e mandar para todos os seus amigos. Ou atualizar seu facebook/orkut enquanto deveria estar atualizando sua pesquisa ou seus estudos.
Mas muito da procrastinação é bastante sutil, e pode acabar misturando com trabalho produtivo. Por exemplo, você pode ficar horas procurando aquela referência, sendo que você tem mais do que pode realmente ler. Ou você começa um novo experimento ao invés de analisar o antigo. Ou checar seu e-mail. Ou ficar se estendendo num exercício ou problema que você já sabe como fazer, e já sabe a resposta, ao invés de passar para o próximo. Ou não focar seu estudo no que é obrigatório para se preocupar com assuntos além, ou aquém, da disciplina. Estas atividades podem parecer que a pessoa está fazendo algo produtivo, e com certeza está, mas não o que deveria estar fazendo agora!
Por exemplo, porque uma arrumação de casa ou do quarto, ou uma tarefa qualquer, é mais “divertida” quando você está trabalhando num artigo ou numa tese ou estudando pra uma prova? É uma atividade de descolamento, usada para dispensar a auto-reprovação ou o desconforto que sentimos quando não fazemos nada. Ver novela, ou tirar uma soneca, causa muita culpa. Mas você nunca, digamos, reorganizou os arquivos do seu computador para ficar mais simples encontrá-los? Vai aumentar sua velocidade de pesquisa, afinal de contas!
Apesar de todas estas atividades ou desculpas são aceitáveis, sua falha fatal é que quando você a termina você ainda não terminou seu artigo, escreveu sua dissertação, fez o experimento ou estudou para a prova. Você provavelmente irá ter um aumento neste sentimento de culpa, porque você não está tendo progresso nenhum no seu objetivo. Infelizmente, enquanto você está lendo e-mails ou fazendo tarefas de deslocamento, a fada da motivação não parou e fez esta tarefa difícil aparentar mais atraente. E isto é justamente como a motivação NÃO funciona.
Muita gente tem um desentendimento básico: pensamos que motivação leva a ação, ou mais simplesmente, quando você se sente fazendo algo, você vai e faz. Isto pode funcionar para coisas que você gosta de fazer, mas não é bom para tarefas grandes e com datas limite confusas (projeto, trabalhos, provas, etc.).
Algumas pesquisas de psicólogos sugerem que motivação leva a ação, que retorna levando a mais ação. Você tem que começar antes de se sentir preparado, assim você ficará motivado, e assim você irá tomar mais ações. Você já deve ter tido esta experiência. Você tenta fazer uma análise de dados por anos, séculos; eventualmente você decide fazê-lo e, uma vez que começa, você diz para si mesmo: “É, não parece tão difícil como pensei. Por quê não continuar agora que já estou fazendo?”
É claro, começar antes de se sentir motivado é difícil. Mas algumas estratégias podem ser tomadas para evitarmos as condições que levam à procrastinação em primeiro lugar.
Primeiro, projetos grandes e longos devem ser divididos em etapas. Não apenas etapas pequenas, mas etapas “minúscula”. Ao invés de dizer que você irá revisar o artigo inteiro (ou estudar a matéria toda) – que provavelmente será uma tarefa esmagadora – a etapa minúscula pode ser você estudar os comentários dos árbitros ou você fará uma ou duas mudanças (ou você pode estudar uma ou duas seções do capítulo). Segundo, você deve escolher uma hora ou uma data limite para cumprir esta etapa minúscula. Falar que você vai fazê-la depois ou amanhã não adianta – a data limite deve possuir uma “hora” anexada a ela. Terceiro, você deverá construir uma recompensa imediata. Se você conseguir ler os comentários dos árbitros ou revisar as duas pequenas partes (ou estudar as duas seções do capítulo) até, digamos, as 10 horas, você pode se permitir tomar um café, bater um papo ou uma breve troca de e-mails. Agindo assim é bastante provável que assim que você começar uma tarefa, sua motivação irá aumentar rapidamente e você se encontrará querendo ficar na tarefa um pouco mais de tempo.
Assim, se a fada da motivação não estiver passando pelo seu laboratório ou sua mesa ultimamente, talvez seja hora de você dar uma mãozinha para ela. Na próxima vez que você se achar em tarefas de deslocamento, se lembre que há sim uma maneira de fugir desse trabalho elusivo. Siga os três passos e veja sua motivação crescer.
*procrastinação: é o diferimento ou adiamento de uma ação.