quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Já tem nome: Amanhã é um novo dia...


4.


“Uma semana agradável, depois de vários dias extremamente tensos.” Digo para minha mãe quando ligo para ela no sábado de manhã. “Mas o que foi, Marco?” “Ah mãe, muita coisa na cabeça, o término com a Clara, trabalho enchendo a paciência. Enfim, coisas de adulto. Hahaha” “A gente aqui ficou muito chateado com isso tudo entre você e Clara. Você sabe o tanto que a gente gosta dela.” “Complicado, mãe... complexo. Mas, fim de semana passado quando tava na praia deu pra acalmar a cabeça. Aqui, vou desligar e arrumar pra almoçar. Hoje devo dar uma saída com o pessoal.” “Tá bom, juízo aí.” “Ok. Te amo. Beijos.” Ela nunca iria entender, nem ela nem ninguém. Às vezes acho que nem eu mesmo entendo.
“Ei, a fila andou!!!” Uma senhora me diz, enquanto estou com a colher de arroz para servir. “Opa, desculpa!” Nos últimos dias ando perdendo muito a cabeça, sonhando acordado, pensando o que fazer da vida. Desde o último mês, quando a ficha realmente caiu sobre que estava ocorrendo comigo, tenho ficado bastante assim. Sirvo um prato típico, peço um suco, e ao término vou para casa descansar. A semana foi muito boa, mas minha cabeça está em frangalhos. Estar preparado para permanecer vivo, dentro de minha cabeça, é um trabalho que desgasta. Deito no sofá e ligo The Doors.
Acordo com o celular tocando, “Fala Marco, beleza?” “Tudo tranquilo, Carlo. Dei uma cochilada. Hehehe” “Deu pra perceber pela voz. E aí, melhorou?” “Tô bem. Parou de dar pane em meu corpo. E minha cabeça parou de doer. Cara, tava difícil ficar daquele jeito. Parece que tirei algo das costas.” “Marcão, você não sabe o tanto que fico bem em ouvir isso.” Sinto verdade na voz de Carlo, ele sempre foi um amigo bacana. “Eu também! E aí, tá combinado as 8 no Bar?” “Pois é, tá combinado. Tá indo eu, Janaína, Paulo, Luis, e duas amigas – gatinhas por sinal – da Jana.” “Hahaha. Tô de férias disso, meu caro! Mas tá certo então, combinado.” Desligo o telefone, penso que vai ser uma noite agradável. Pessoas bacanas, papos ótimos, mulheres bonitas. Mesmo que eu não queira mais nenhuma, é sempre bom ver gente bonita.
Consigo apenas pensar em não ligar, não mandar mensagem, não procurar, não ver a Clara. Ela não tem mais o costume de frequentar o Bar, mas como minha cabeça está boa esses dias, creio que é melhor fazer este tipo de “terapia pré-buteco”. Antes de sair de casa, vou desligar o som. Jim Morrison canta assim que chego para apertar o botão, “This is the end/My only friend/The end.
No Bar, chego antes de Janaína com as amigas. Paulo, Luis, Carlo e eu conversamos sobre nossos times, eles tomando uma cerveja e eu um suco. Obviamente, todos ficam caçoando de mim devido à minha abstinência alcóolica, mas faz-se necessário. Acabo por entrar na brincadeira, dizendo que aceitei de vez minha condição de fraco. Janaína chega com suas amigas e as apresenta. Ana, cabelo curto, seios fartos, sorriso bonito, cara de espertinha. Priscila, não me chama atenção, apesar da extrema beleza de seu rosto. Ambas muito simpáticas, entram na conversa sobre futebol, já falando do jogo de amanhã.
A conversa rende bem, todos muito interessados uns nos outros. As novatas ficam tentando me dar bebida, aceito um copo de cerveja e nada mais. Os amigos antigos, em especial Carlo e Jana, ficam surpresos e no fundo orgulhosos de mim. De fato eu estou muito orgulhoso de mim por esta força, umas semanas atrás eu estaria pedindo todos os copos de todas as bebidas possíveis. A noite continua agradável, o papo extremamente feliz: futebol, fofocas engraçadas do trabalho, piadas, política, animais de estimação. Ana sendo muito simpática comigo, mais que Priscila, ou seria impressão minha?
Vou ao banheiro e me deparo com uma cena que há muito não via, meu rosto com o semblante bom, de quem está feliz. “Muito bom. Um ótimo início de final de semana, para uma excelente semana.” Sorrio honestamente e retorno à mesa. Chegando lá, Ana está onde Carlo se encontrava, ao lado de minha cadeira. “Moça bonita, e intelectual. Gosta de ser desafiada, e de sorrir por besteiras. Tá no papo.” Penso com meus botões. Sento ao seu lado, e começo a perguntar sobre o que ela faz. “Acabei de terminar curso de Farmácia, estou começando uma pós graduação.” “Mestrado?” “Isto. Tá bem legal, sabe?” “Inventa um remédio pra mim, que me deixa mais feio. Ou pelo menos um remédio que te deixa menos interessada em mim!” Ela sorri, chegando perto e encostando em meu joelho. Pronto, se eu quiser já consegui. Prossigo a conversa, até o ponto em que Jana e Priscila vão embora, e ficamos eu, Ana e Carlo no Bar.
Apesar de não estar com tanta vontade de ninguém no momento, meu instinto fala mais alto e acabo por ficar com Ana. Carlo vai embora, e eu sigo para casa com Ana. “Você é linda!” “E você sabe fazer uma mulher querer, hein?” Ela já está um pouco tonta, mas nada que a faça perder os sentidos. Não sou tão escroto quanto isto. Levo ela para minha casa, e da entrada já vamos para o quarto. As peles se encostando, as línguas se entrelaçando. Além de escitação sexual, era pra eu sentir algo, certo?
Enquanto estamos na cama, transando, começo a pensar nos últimos dias, penso na minha família, penso em Clara. Não há mais sentimento em nada, uma profunda depressão retorna à minha cabeça. Porque estou fazendo isso? Porque insisto em fingir prazer, em fingir felicidade? Se eu não estiver aqui, quem vai sentir falta? Meus pais e irmãos, óbvio, mas o tempo irá curá-los. O tempo não irá me curar. Todas as frustrações de minha vida, das últimas semanas, passam pelos meus olhos enquanto Ana está em cima de mim. Não há o que fazer. Penso: “Não há cura para isso, Marco, seu imbecil!”
Exatamente na hora em que gozo tomo a decisão. O prazer falso que externo para Ana, e o nojo que sinto ao gozar com aquela moça bonita por quem eu não sentia nada, facilitam tudo. Enquanto ela cochila, exausta, ao meu lado, olho para o teto e reflito sobre duas coisas. A primeira é em como deixar minhas finanças para meus pais. A segunda é que tenho que acabar com essa maldita hipocrisia que chamo de vida o mais rápido possível.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

3.


3.



Domingo é um dia morto, muitos dizem. Hoje está bem assim. Depois da noite de ontem, eu só queria isto mesmo: permanecer sozinho, em casa, tentando não pensar em nada, não ter a obrigação de conversar com ninguém. Almoço uma pizza Pif-Paf, de frango, tomando coca-cola, e ligo a TV. Televisão num domingo, em qualquer canal, aberto ou fechado, é um ruído branco que ligo enquanto vejo as “notícias” das redes sociais. Figurinhas engraçadas são o bastante para tirar o meu próprio pensamento sobre mim mesmo. Pleonasmo, mas é basicamente isto. “Se a humanidade fosse tão criativa para coisas ditas 'importantes' como paz e ciência, como é com humor de internet, estaríamos vivendo num mundo mais chato.” Pelo menos o tempo passa rápido com esta junção TV no domingo e redes sociais.
Logo antes do jogo de futebol, toca meu telefone. Tentam mais de 10 vezes, e eu decido atender. “Opa, beleza? Não vi tocando, tava no silencioso.” “E aí Marcão, bora tomar uma cerveja?” “Ah cara, num tô na onda não!” “Nem vem com essa, só umas cervejas de leve!” “Beleza Carlo, vou pensar aqui e te ligo. Abraço.De leve, sei. Sinto-me como se anjo e demônio lutassem por esta decisão. “Saio ou não saio?” O anjo vence, e em 20 minutos tranco a porta de casa rumo ao Bar.
Carlo, Janaína, Paulo e Luis estavam já com seus copos cheios e aquele sorriso bom no rosto. Parece que eu nasci para isto: mesa de buteco, galera conversando, cerveja gelada. Chego e sento junto ao Paulo, peço meu copo e entro na conversa. “E aí, o que tá rolando?” “Tamo falando de ontem, você se deu bem hein?“Foi legal, Jana. A moça era bacana.” “Você não deve nem saber o nome dela. Haha” “É Ana!Digo com um sorriso de canto de boca, no momento que meu copo chega. Tomo o primeiro gole de cerveja, saboreando com gosto o formigar que uma boa cerveja deixa na boca. Muito bom. “Mas e aí, o que rolou?” “Nada de mais, fui com ela pra casa, ficamos e ela foi embora. Foi até bacana. Mas e aí, o que vocês tão pensando pra hoje?Mudo de assunto rápido, não quero pensar na transa de ontem, muito menos no que eu pensava na hora. “Ah, vamo ficar aqui, tomar uma cerveja de leve, e depois tamo pensando em ir para o Space.” “Vamo ver... tô pensando em ficar mais quieto hoje.
A conversa gira em torno de futebol e política, excluímos o assunto trabalho e fofocas. Como estamos em tempo eleitoral, cada um faz uma boa observação sobre a cidade e o que os políticos da região poderiam ter feito. Janaína muda de assunto, falando do curso que ela pretende fazer. Acho interessante ela querer estudar, depois de tanto tempo sem entrar numa sala de aula. Eu nunca tive esta disposição para estudar. Conversar com a Jana é bom por vários motivos, dentre eles o nível alto da conversa, o cheiro, e principalmente os grandes decotes que ela usa. Vez ou outra ela me dá um tapinha para que eu olhe para seu rosto ao invés de seus seios.
Olho para o relógio, duas horas que estamos aqui, e penso em mandar mensagem para a Clara. Sempre ela, sempre. Percebo que estamos começando a ficar alterados, tanto pelo desejo que tenho de falar com Clara quanto pela quantidade de sorrisos e papos atravessados que estamos envolvidos. “Vou mandar mensagem pra Clara!” “Você tá doido? Fica ativo, me dá logo este celular.” Pronto, sem celular. Carlo me salvou dessa. “Ô garçom... traz uma cachacinha boa pra gente?” Vou aproveitar. “Bora pro Space daqui a pouco!!!Gritos de alegria. A sensação que a cerveja dá é fantástica. Liberdade, alegria, poder. Tomo a cachaça sabendo que a noite vai render, e que vou passar do limite. Fico alterado rapidamente, com energia para ir ao Space.
Discotecas não são meu habitat natural, mas do jeito que estou vai ser bom. No Space, peço uma cerveja logo na entrada. Paulo, Luis e Carlo estão na pista, e fico no balcão com Jana, conversando. “Hahaha... acho que tô meio ruim já.” “Não, eu tô tranquila. Vou vigiar vocês.” “Meu celular? Onde ele tá?” “Tá com o Carlo, relaxa.” “Garçom, me vê um estanrreger aí.” “Ele quer um steinhaeger!” “Isso mesmo que eu quero. Hoje vô ficar ruim.” “Mais?Viro a dose de steinhaeger, muito bom. “Cadê a Clara?” “Marcão, esquece a Clara.” “Tá.Vejo uma moça bonita e vou conversar com ela. “Oi, tudo beleza?” Balbucio o que posso, não estou conseguindo falar direito, muito menos pensar. “Cara, você tá tonto demais. Não me enche, ok?” “Tá bom, feia. HahahaPeço outra cerveja, mas não vejo a Janaína mais. Ela deve ter ido pra pista, então sigo para lá, tropeçando em algumas pessoas.
Chego na pista e vejo a Jana conversando com outra mulher, bem no canto, escondidas. Tenho que olhar mais de três vezes para acreditar. Será a bebida ou estou enxergando direito? “Clara, que cê tá fazendo aqui?” “Marco, você tá muito bêbado, não quero conversa com você.” “Marcão, vai lá pro balcão, já tô indo te levar pra casa.” “Jana, tô tranquilo, quero bater papo com Clarinha. Clarinha, 'xa te falar no ouvido...” “Marco, não quero conversar contigo. Jana, leva ele, depois te explico e a gente conversa.” “Peraí Clara, tenho que te falar uma coisa. Decidi ontem. Cê vai gostar! Hahaha” “Marco, não encosta mais em mim, não quero conversar. Jana, por favor.” “Clara, deixa eu te falar e te dar um beijinho de despedida? Hahaha” “NÃO!!!Meu rosto agora está queimando, e tem uns caras que nunca vi me arrastando. “PORRA, o que tá rolando? PORRA! CLARA!” O segurança me jogou na rua, não estou entendendo nada. Janaína me arrasta para o carro dela, me xingando e falando que era pra eu deixar a Clara quieta. “A Clara me ama, Jana! Hahahahaha”
Jana e Carlo me deixam na cama, depois de molharem meu cabelo no chuveiro, ambos falando que eu estou errado. Não entendo onde estou errado, ela gosta de mim. Carlo deixa meu telefone do lado da cama, tento pegar pra ligar pra Clara, mas meu braço e meu olho estão pesados demais. A bebida me consome.

sábado, 9 de agosto de 2014

Capitulo 2

Se alguem leu o 1, aí vai o 2...

 2.


    Ressaca somada a uma segunda-feira é um conjunto esmagador. Olhos marejados, nariz escorrendo vômito, olho para a privada e vejo uma mistura de fluido estomacal com uma bolinha de sangue. De duas uma: ou a força que fiz para vomitar estourou vasos no esôfago ou é só mais uma etapa do meu corpo pedindo por clemência. Depois de um banho longo, onde eu tento lembrar o que tinha feito ontem de noite, vou à cozinha e encho um copo de coca-cola gelada. Uma sobra de pizza gelada reveste o que sobrou de meu estômago e visto-me para o trabalho.

    “Cara, o que rolou ontem?” Alguns flashes passam pela minha cabeça. Risos, mulheres, amigos, amigas, copos, cerveja, um tapa, cachaça, talvez vodka (ou seria steinhaeger?). “Será que  fiz algo com alguém?” A ressaca moral, aquela estranha sensação de ter conversado algo inapropriado com uma pessoa, faz com que eu acorde dos meus sonhos da noite anterior quase no instante em que esbarro meu carro no do cara que está me xingando. Sei como começou, sei de algumas coisas durante, não sei como cheguei em casa. Péssimo. Pelo menos desde sábado já está tudo decidido. Então, que se foda o que fiz e com quem fiz.

    Chego no trabalho, atrasado, olheiras profundas. Todos sabem, provavelmente pelo aspecto e pelo hálito, que estou de ressaca. Converso pouco, tomo café, olho para a cara de cada um e cada uma com um nojo estupendo, que faz minha cabeça rodar e lembrar da bola de sangue na privada. “E aí Marco, ressacão hein?” “Pois é, Carlo... hoje tá difícil!!!” Única frase que consigo dizer sem ter ânsia de vômito. Enquanto eu respondia, alguns sorriam ironicamente, outros companheiramente, e algumas pessoas fechavam a cara. Diziam-se amigos e amigas. Eu não sentirei falta alguma de nenhum. Mesmo com esta maldita ressaca, insisto em prestar atenção. As conversas, sempre as mesmas: 1) “Hoje tá ______, hein!” Coloque no espaço as seguintes palavras: frio, quente, chovendo, seco. 2) “Você viu ______? Ficou com _______, aquele(a) _______! Deu vexame!” Coloque nomes masculinos e/ou femininos, e adjetivos pejorativos no final. 3) “________ morreu!” Nome do(a) último morto(a) do fim de semana. 4) “Você viu a treta de _______?” Nome de algum(a) ator ou atriz famoso(a). E assim por diante. Nada além  de futilidades. Pela primeira vez no dia dou um sorriso sincero. Muito bom.

    Vou para minha sala e decido trabalhar pesado. Durante o dia, deixo toda a papelada pronta para amanhã, toda a imprestável burocracia praticamente resolvida. Sem almoço e saindo da sala apenas para ir ao banheiro, termino o dia no site do banco, movimentando as últimas contas e deixando no computador os dados para a transferência de amanhã. Pronto, mesmo movido a neosaldinas e com a cabeça estourando, consigo deixar tudo resolvido para a manhã de terça-feira.

    Entro em casa aproximadamente às 8h30m da noite, depois de passar na padaria. Tomo um banho, melhor que o da manhã. Faço um café e como pão com presunto e mussarela. Muito bom. Tudo está caminhando bem. Deito em frente à TV, está passando South Park: “Friendly faces everywhere. Humble folks without temptation.” Hahaha. Muito bom. Ligo para minha mãe. “Oi mãe, tudo bem?” A melhor voz do mundo responde, e dispara a falar: “Oooiii meu filho, tudo bem com você? Seu pai tá aqui mandando um abraço. E as coisas no trabalho?” “Tudo ok mãe...” “Aqui também tudo bem. Seus irmãos tão na mesma, trabalhando. Os filhos do Mateus estão dando um trabalhão, tiraram nota baixa. Mas estão lindos, uma benção...” Paro de prestar atenção no assunto, agora pra mim só existe a voz. Maternal seria redundante, mas é o único adjetivo. Sinto-me bem, livre, em paz. Ela passa para meu pai, ele começa a falar sobre o carro que deu problema e sobre os gols de nosso time, mas novamente eu não presto atenção. Sorrio enquanto ouço a voz dele, ao mesmo tempo que lágrimas de felicidade plena descem pelo meu rosto. “Beijo pai, passa pra mãe. Mãe, beijão. Amo vocês. Dê abraços em todos.”

    Desligo. Mais lágrimas.

    Está tudo certo.

    Amanhã.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Apenas uma coisa que to pensando em escrever...

To com uma ideia pra escrever, mas ia demandar tempo/disposição... tipo de uns 45 ou 60 desses "capitulos"... enfim...


1



Acordo com o despertador tocando. Levanto, passo em frente ao espelho – a cara está até bem bacana – e vou direto para o banho. Dispu-me, analiso a saliência da barriga e sorrio. No box, deixo a água correr enquanto me apoio na parede. Uma das coisas boas da vida é deixar a água do chuveiro cair forte na nuca, não há pensamento algum, apenas a força da água na pele. Ensaboo-me, massageio o cabelo, mais água. Seco o corpo por completo, vou ao quarto e visto a roupa para o trabalho. 
 
Mas antes, um café da manhã caprichado. Pão dormido, manteiga, café forte, leite frio. Muito bom. Outra coisa boa da vida é comer um bom café da manhã. Enquanto lancho, ouço as notícias na rádio. Bombardeio no oriente médio, inflação, alta do dólar, corrupção, pausa para o futebol. Acho engraçado quando ouço José Simão e sua série “Os predestinados”: o dono de uma funerária que se chama João Boa Morte. Hahaha. Predestinados.
Pego o carro, e dirijo para o serviço. No shuffle do carro, um bom rock. Jimi Hendrix seguido de Secos & Molhados. De repente começa Echoes, do Pink Floyd: “Overhead the Albatross hangs motionless upon the air.” Sorrio. Uma das coisas boas da vida é ouvir um bom rock. Chegando ao prédio onde trabalho, dou meus cumprimentos a todos. “O dia está lindo, não é?” Todos parecem felizes, mas não tanto quanto eu. Há muito tempo não me viam tão bem com a vida. Uma das coisas boas da vida é trabalhar com o que se gosta. Converso com os e as colegas, falamos de amenidades, política e sobre quem foi assaltado no dia anterior. Contamos uma piada e gargalhamos. É um bom dia.
Em meu escritório, preparo todas as coisas. Este sim é um dia produtivo, não quero deixar absolutamente nada para depois do almoço. Consigo realizar todas as tarefas, e até algumas que seriam para a tarde. Assim que as termino, entro no site do banco, e faço a transferência para meus pais. Não deixo um centavo sequer na conta, não necessito mais.
Assim que chega a hora do almoço, subo as escadas e chego ao parapeito. Não há hesitação. Salto. Durante a queda, penso em várias coisas. Nas coisas boas principalmente. Em todas elas, todas. O vento batendo no corpo me dá uma sensação divina, sinto-me como o albatroz de Echoes, o ar em meu rosto me deixa mais feliz ainda. 
 
Não sinto medo, não sinto nada. 
 
Antes de tocar o chão, sinto o cheiro de meus pais. Perfeito.

Muito obrigado.

Até breve.