segunda-feira, 11 de agosto de 2014

3.


3.



Domingo é um dia morto, muitos dizem. Hoje está bem assim. Depois da noite de ontem, eu só queria isto mesmo: permanecer sozinho, em casa, tentando não pensar em nada, não ter a obrigação de conversar com ninguém. Almoço uma pizza Pif-Paf, de frango, tomando coca-cola, e ligo a TV. Televisão num domingo, em qualquer canal, aberto ou fechado, é um ruído branco que ligo enquanto vejo as “notícias” das redes sociais. Figurinhas engraçadas são o bastante para tirar o meu próprio pensamento sobre mim mesmo. Pleonasmo, mas é basicamente isto. “Se a humanidade fosse tão criativa para coisas ditas 'importantes' como paz e ciência, como é com humor de internet, estaríamos vivendo num mundo mais chato.” Pelo menos o tempo passa rápido com esta junção TV no domingo e redes sociais.
Logo antes do jogo de futebol, toca meu telefone. Tentam mais de 10 vezes, e eu decido atender. “Opa, beleza? Não vi tocando, tava no silencioso.” “E aí Marcão, bora tomar uma cerveja?” “Ah cara, num tô na onda não!” “Nem vem com essa, só umas cervejas de leve!” “Beleza Carlo, vou pensar aqui e te ligo. Abraço.De leve, sei. Sinto-me como se anjo e demônio lutassem por esta decisão. “Saio ou não saio?” O anjo vence, e em 20 minutos tranco a porta de casa rumo ao Bar.
Carlo, Janaína, Paulo e Luis estavam já com seus copos cheios e aquele sorriso bom no rosto. Parece que eu nasci para isto: mesa de buteco, galera conversando, cerveja gelada. Chego e sento junto ao Paulo, peço meu copo e entro na conversa. “E aí, o que tá rolando?” “Tamo falando de ontem, você se deu bem hein?“Foi legal, Jana. A moça era bacana.” “Você não deve nem saber o nome dela. Haha” “É Ana!Digo com um sorriso de canto de boca, no momento que meu copo chega. Tomo o primeiro gole de cerveja, saboreando com gosto o formigar que uma boa cerveja deixa na boca. Muito bom. “Mas e aí, o que rolou?” “Nada de mais, fui com ela pra casa, ficamos e ela foi embora. Foi até bacana. Mas e aí, o que vocês tão pensando pra hoje?Mudo de assunto rápido, não quero pensar na transa de ontem, muito menos no que eu pensava na hora. “Ah, vamo ficar aqui, tomar uma cerveja de leve, e depois tamo pensando em ir para o Space.” “Vamo ver... tô pensando em ficar mais quieto hoje.
A conversa gira em torno de futebol e política, excluímos o assunto trabalho e fofocas. Como estamos em tempo eleitoral, cada um faz uma boa observação sobre a cidade e o que os políticos da região poderiam ter feito. Janaína muda de assunto, falando do curso que ela pretende fazer. Acho interessante ela querer estudar, depois de tanto tempo sem entrar numa sala de aula. Eu nunca tive esta disposição para estudar. Conversar com a Jana é bom por vários motivos, dentre eles o nível alto da conversa, o cheiro, e principalmente os grandes decotes que ela usa. Vez ou outra ela me dá um tapinha para que eu olhe para seu rosto ao invés de seus seios.
Olho para o relógio, duas horas que estamos aqui, e penso em mandar mensagem para a Clara. Sempre ela, sempre. Percebo que estamos começando a ficar alterados, tanto pelo desejo que tenho de falar com Clara quanto pela quantidade de sorrisos e papos atravessados que estamos envolvidos. “Vou mandar mensagem pra Clara!” “Você tá doido? Fica ativo, me dá logo este celular.” Pronto, sem celular. Carlo me salvou dessa. “Ô garçom... traz uma cachacinha boa pra gente?” Vou aproveitar. “Bora pro Space daqui a pouco!!!Gritos de alegria. A sensação que a cerveja dá é fantástica. Liberdade, alegria, poder. Tomo a cachaça sabendo que a noite vai render, e que vou passar do limite. Fico alterado rapidamente, com energia para ir ao Space.
Discotecas não são meu habitat natural, mas do jeito que estou vai ser bom. No Space, peço uma cerveja logo na entrada. Paulo, Luis e Carlo estão na pista, e fico no balcão com Jana, conversando. “Hahaha... acho que tô meio ruim já.” “Não, eu tô tranquila. Vou vigiar vocês.” “Meu celular? Onde ele tá?” “Tá com o Carlo, relaxa.” “Garçom, me vê um estanrreger aí.” “Ele quer um steinhaeger!” “Isso mesmo que eu quero. Hoje vô ficar ruim.” “Mais?Viro a dose de steinhaeger, muito bom. “Cadê a Clara?” “Marcão, esquece a Clara.” “Tá.Vejo uma moça bonita e vou conversar com ela. “Oi, tudo beleza?” Balbucio o que posso, não estou conseguindo falar direito, muito menos pensar. “Cara, você tá tonto demais. Não me enche, ok?” “Tá bom, feia. HahahaPeço outra cerveja, mas não vejo a Janaína mais. Ela deve ter ido pra pista, então sigo para lá, tropeçando em algumas pessoas.
Chego na pista e vejo a Jana conversando com outra mulher, bem no canto, escondidas. Tenho que olhar mais de três vezes para acreditar. Será a bebida ou estou enxergando direito? “Clara, que cê tá fazendo aqui?” “Marco, você tá muito bêbado, não quero conversa com você.” “Marcão, vai lá pro balcão, já tô indo te levar pra casa.” “Jana, tô tranquilo, quero bater papo com Clarinha. Clarinha, 'xa te falar no ouvido...” “Marco, não quero conversar contigo. Jana, leva ele, depois te explico e a gente conversa.” “Peraí Clara, tenho que te falar uma coisa. Decidi ontem. Cê vai gostar! Hahaha” “Marco, não encosta mais em mim, não quero conversar. Jana, por favor.” “Clara, deixa eu te falar e te dar um beijinho de despedida? Hahaha” “NÃO!!!Meu rosto agora está queimando, e tem uns caras que nunca vi me arrastando. “PORRA, o que tá rolando? PORRA! CLARA!” O segurança me jogou na rua, não estou entendendo nada. Janaína me arrasta para o carro dela, me xingando e falando que era pra eu deixar a Clara quieta. “A Clara me ama, Jana! Hahahahaha”
Jana e Carlo me deixam na cama, depois de molharem meu cabelo no chuveiro, ambos falando que eu estou errado. Não entendo onde estou errado, ela gosta de mim. Carlo deixa meu telefone do lado da cama, tento pegar pra ligar pra Clara, mas meu braço e meu olho estão pesados demais. A bebida me consome.

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi,
quedelhe o resto? desistiu de continuar? :/