3.
Domingo é um dia
morto, muitos dizem. Hoje está bem assim. Depois da noite de ontem,
eu só queria isto mesmo: permanecer sozinho, em casa, tentando não
pensar em nada, não ter a obrigação de conversar com ninguém.
Almoço uma pizza Pif-Paf, de
frango, tomando coca-cola, e ligo a TV. Televisão num domingo, em
qualquer canal, aberto ou fechado, é um ruído branco que ligo
enquanto vejo as “notícias” das redes sociais. Figurinhas
engraçadas são o bastante para tirar o meu
próprio pensamento sobre mim
mesmo. Pleonasmo, mas é
basicamente isto. “Se
a humanidade fosse tão criativa para coisas ditas 'importantes'
como paz e ciência, como é com humor de internet, estaríamos
vivendo num mundo mais chato.” Pelo
menos o tempo passa rápido com esta junção TV no domingo e redes
sociais.
Logo
antes do jogo de futebol, toca meu telefone. Tentam mais de 10 vezes,
e eu decido atender. “Opa, beleza? Não vi tocando, tava no
silencioso.” “E aí
Marcão, bora tomar uma cerveja?”
“Ah cara, num tô na onda
não!” “Nem
vem com essa, só umas cervejas de leve!”
“Beleza Carlo, vou pensar
aqui e te ligo. Abraço.”
De leve, sei. Sinto-me
como se anjo e demônio lutassem por esta decisão. “Saio ou não
saio?”
O anjo vence, e em 20 minutos tranco
a
porta de casa rumo ao Bar.
Carlo,
Janaína, Paulo e Luis estavam já com seus copos cheios e aquele
sorriso
bom no rosto. Parece que eu
nasci para isto: mesa de buteco, galera conversando, cerveja gelada.
Chego e sento junto ao Paulo,
peço meu copo e entro na conversa. “E
aí, o que tá rolando?”
“Tamo falando de ontem,
você se deu bem hein?”
“Foi legal, Jana. A moça
era bacana.” “Você não
deve nem saber o nome dela. Haha”
“É Ana!”
Digo com um sorriso de canto
de boca, no momento que meu copo chega. Tomo o primeiro gole de
cerveja, saboreando com gosto o formigar que uma boa cerveja deixa na
boca. Muito bom. “Mas e aí,
o que rolou?” “Nada de
mais, fui com ela pra casa, ficamos e ela foi embora. Foi até
bacana. Mas e aí, o que vocês tão pensando pra hoje?”
Mudo de assunto rápido, não
quero pensar na transa de ontem, muito menos no
que eu pensava na hora. “Ah,
vamo ficar aqui, tomar uma cerveja de leve, e depois tamo pensando em
ir para o Space.”
“Vamo ver... tô pensando
em ficar mais quieto hoje.”
A
conversa gira em torno de futebol e política, excluímos o assunto
trabalho e fofocas. Como estamos
em tempo eleitoral, cada um faz uma boa observação sobre a cidade e
o que os políticos da região poderiam ter feito. Janaína
muda de assunto,
falando do curso que ela pretende fazer. Acho
interessante ela querer estudar, depois de tanto tempo sem entrar
numa sala de aula. Eu nunca
tive esta disposição para estudar. Conversar
com a Jana é bom por vários motivos, dentre eles o nível alto da
conversa, o cheiro, e principalmente os grandes decotes que ela usa.
Vez ou outra ela me dá um tapinha para que eu olhe para seu rosto ao
invés de seus seios.
Olho
para o relógio, duas
horas que
estamos aqui, e penso em mandar mensagem para a Clara. Sempre ela,
sempre. Percebo que estamos começando a ficar alterados, tanto pelo
desejo que tenho
de falar com
Clara quanto pela quantidade de sorrisos e papos atravessados que
estamos envolvidos. “Vou
mandar mensagem pra Clara!” “Você tá doido? Fica ativo, me dá
logo este celular.” Pronto, sem celular. Carlo me salvou dessa.
“Ô garçom... traz uma cachacinha boa pra gente?” Vou
aproveitar. “Bora pro Space
daqui a pouco!!!” Gritos
de alegria. A sensação que
a cerveja
dá é fantástica. Liberdade, alegria, poder.
Tomo a cachaça sabendo que a
noite vai render, e que vou
passar do limite. Fico
alterado rapidamente, com energia para ir ao Space.
Discotecas
não são meu habitat natural, mas
do jeito que estou vai ser bom. No
Space, peço
uma cerveja logo na entrada.
Paulo, Luis e Carlo estão na pista, e fico no balcão com Jana,
conversando.
“Hahaha... acho que tô meio ruim já.” “Não, eu tô
tranquila. Vou vigiar vocês.” “Meu celular? Onde ele tá?” “Tá
com o Carlo, relaxa.” “Garçom,
me vê um estanrreger aí.”
“Ele quer um steinhaeger!”
“Isso mesmo que eu quero.
Hoje vô ficar ruim.”
“Mais?”
Viro a dose de steinhaeger,
muito bom. “Cadê a Clara?”
“Marcão, esquece a Clara.”
“Tá.”
Vejo uma moça bonita e
vou conversar com ela. “Oi, tudo beleza?” Balbucio o que posso,
não estou conseguindo falar direito, muito menos pensar. “Cara,
você tá tonto demais. Não me enche, ok?” “Tá bom, feia.
Hahaha”
Peço outra cerveja, mas não
vejo a Janaína mais. Ela deve ter ido pra pista, então
sigo para lá, tropeçando em algumas pessoas.
Chego
na pista e vejo a Jana conversando com outra mulher, bem
no canto, escondidas. Tenho
que olhar mais de três vezes para
acreditar. Será a bebida ou estou enxergando direito? “Clara, que
cê tá fazendo aqui?” “Marco, você tá muito bêbado, não
quero conversa com você.” “Marcão, vai lá pro balcão, já
tô indo te levar pra casa.”
“Jana, tô tranquilo, quero
bater papo com Clarinha. Clarinha, 'xa te falar no ouvido...”
“Marco, não quero
conversar contigo. Jana, leva ele, depois te explico e a gente
conversa.” “Peraí
Clara, tenho que te falar uma coisa. Decidi ontem. Cê vai gostar!
Hahaha” “Marco,
não encosta mais em mim, não quero conversar. Jana, por favor.”
“Clara, deixa eu te falar e
te dar um beijinho de despedida? Hahaha”
“NÃO!!!”
Meu rosto agora está
queimando, e tem uns caras que nunca vi me arrastando. “PORRA, o
que tá rolando? PORRA! CLARA!” O segurança me jogou na rua, não
estou entendendo nada. Janaína me arrasta para o carro dela, me
xingando e falando que era pra eu deixar a Clara quieta. “A Clara
me ama, Jana! Hahahahaha”
Jana
e
Carlo
me deixam
na cama, depois de molharem
meu cabelo no chuveiro, ambos
falando que eu estou errado. Não
entendo onde estou errado, ela gosta de mim. Carlo
deixa meu telefone do lado da cama, tento pegar pra ligar pra Clara,
mas meu braço e meu olho estão pesados demais. A
bebida me consome.
Um comentário:
Oi,
quedelhe o resto? desistiu de continuar? :/
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